sábado, 24 de novembro de 2007

"Há,sem dúvida, quem deseja o impossível."

A poesia de Ricardo Reis é constituída com base em ideias elevadas e odes, ou seja, na poesia de Reis é constante o Neoclassicismo. As odes aparecem sempre indiferentes ao social, mas sempre consciente da efemeridade da vida.
Através da intemporalidade das suas preocupações, a angústia da brevidade da vida, a inevitável Morte e a interminável busca de estratégias de limitação do sofrimento que caracteriza a vida humana, o heterónimo tenta iludir o sofrimento resultante da consciência aguda da precariedade da vida.
Reis leva o paganismo de Caeiro à sua expressão mais ortodoxa, através de um neoclassicismo neo-pagão, cultivando a mitologia greco-latina.
Numa arte poética particularmente sua, este heterónimo procurou sempre o mais alto, o impossível até. Clássico por excelência, idealista e platónico no amor, constata o efémero da vida e anseia por uma fenomenológica eternidade terrena, "ama o infinito porque mais do que todos se apega à vida, desejando-a infinda, sob a simulação de resignar-se com a transitoriedade.".
Amando o impossível ou o infinito, Ricardo Reis sempre procurou os píncaros, como a fugir (fingindo) de uma realidade terrena que verdadeiramente queria viver, eternamente, "Há a renúncia de quem atingiu os píncaros da humana lucidez e abstrai seus conceitos de impermanência e símbolos da contemplação voluntária de uma natureza quem o homem iguala à essencialidade ideal que lhe basta".
À questão da indagnação do sentido da existência, Reis "responde como se fosse um homem de outro tempo e de outro mundo, um grego antigo, pagão a braços com o Destino.". Ele é um conformista que pensa que nenhum desejo vale a pena, pois a escolha não está ao alcance do homem e tudo está determinado por uma ordem superior e incogniscível. Nada do universo que nos foi dado se pode conhecer, só nos resta aceitá-lo com resignação,como o Destino. Assim, a vida deve ser conduzida com calculismo e frieza, alheia a tudo o que possa perturbar.
O horacianismo é retomado por Ricardo Reis que, como Horácio, escreve Odes em estilo sentencioso e elegante, recorrendo frequentemente a construções latinas. Revela também o mesmo propósito ético, ao celebrar o carpe diem, ao exprimir a busca do equilíbrio da áurea mediocritas, ao seguir os princípios do epicurismo e do estoicismo, que o poeta latino assimilou da filosofia grega.
Em termos de conclusão, Ricardo Reis:
  • Apreciava tranquilamente o prazer das coisas, sem esforço ou preocupação;
  • Nos seus poemas, há uma postura ética e um constante diálogo entre o passado e o presente;
  • Aceita o destino com naturalidade, defendendo que por cima dos deuses se encontra o fado;

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Assinatura de Ricardo Reis